Antigamente tinha ranchos na beira do rio, ranchos alegres, ranchos de reuniões, festas, pescarias, noitadas na areia comendo peixe assado na brasa, a fogueira de chamas vermelhas e azuis com fagulhas subindo das brasas quentes.
Uns dormiam, outros cantavam, outro tocava músicas dolentes ao violão, lá no céu negro, as estrelas piscavam como vaga-lumes tiritando de frio. De repente vinha um vulto da beira do rio com um peixe na mão - traíras, mandis e, às vezes uma arisca piapara de olhos vermelhos, peixes que logo seriam devidamente saboreados ou temperados com sal e limão para o almoço de amanhã.
No Rancho Alegre a areia era branca como neve nas noites de lua. Se fosse noite de lua, os dourados barulhentos vinham até a praia e os corimbas lambiam a espuma na flor d’’’’água deixando aros brilhantes na superfície lustrosa. Na madrugada friorenta, a mãe da lua cantava seu canto de arrepiar os cabelos. De tarde, os pescadores subiam para armar as redes e apreciar a fina garoa subindo em vapor das águas tranqüilas carregando flores cor de rosa das trepadeiras das margens.
Os que ficavam,cozinhavam, varriam o terreiro, aguavam as plantas, jogavam baralho dormiam e pescavam. O rancho era o lazer gratuito, sem dono e sem patrão, onde as pessoas eram felizes naquela irmandade de piadas repetidas, brincadeiras sem malícia, como oferecer um copo cheio de água como se fosse pinga, ou o contrário. Rancho Alegre, rancho do Tonico Ribeiro, rancho do Ermelindo, rancho do Nêgo Bozzo, dos Moretto e depois surgiram ranchos e mais ranchos que, informa o jornal, “os hômi mandou derrubá“, como a Saudosa Maloca.
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