English French German Spain Italian Dutch Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

No escurinho do cinema

Cinema era a única atração, com filmes mudos e discos tocados nas vitrolas mágicas escondidas nos cantos e cujo som a gente nunca sabia de onde vinha.
Tinha vários tipos de filmes - capa-e-espada, mistério, policial, de mocinho e os filmes de amor, que todos detestavam - era só falatório e uns beijos sem graça.
E tinha também as comédias, com O Gordo e o Magro, Charles Chaplin com seu chapeuzinho coco sempre sozinho e com um The End muito triste.
E aí vieram os filmes mexicanos, mais malandros, com mulheres de pernas de fora.
E as matinês de todos os domingos para trocar gibis e sentar ao lado daquela garota inacessível de unhas cor de rosa, olhos brilhantes e que nunca, mas nunca, deixava a gente ao menos pegar na mão dela quando a sala escurecia e todos torciam, fanaticamente, para que o mocinho desse uma surra no bandidão.
Indiferente, a nossa heroína de todos os sonhos, lânguida e distraidamente, deixava os pelos claros e ardidos de fogo do braço encostarem de leve em nossa pele quente provocando arrepios delirantes e, de vez em quando, nos olhava meio de soslaio, receosa, talvez sonhandoos nossos sonhos.

Juvenil de Souza não tinha dinheiro para ir ao cinema naquele tempo.
Quando podia, vendia garrafa para comprar a entrada.


Próxima crônica
Voltar à página anterior