A gente batia peneira de aro de madeira no córrego do Matadouro nas tardes calorentas, escondidos das mães, para pegar os lambaris ariscos que saltitavam no meio da capituva, raízes de angélicas e bambus.
O córrego era limpinho, a gente podia beber a água mansa, ajuntada com a água do córrego da
Maria Baiana, também limpa e transparente, que engordava na represinha dos Coqueiros antes de cair no rio Pardo.
O mais corajoso da turma armava a peneira na saída do poço de modo que nenhum peixe escapasse. Os mais novos desciam o córrego arrastando os pés na areia fina, obrigando os peixes a cair na armadilha traiçoeira. Aí, era só levantar a peneira rapidamente e milhares de peixinhos brilhantes e prateados saltavam no ar, guelras aflitas, vermelhas e palpitantes.
Às vezes, vinha uma cobra, uma gambeva, uma barata d,água. Depois, era limpar com as unhas as escamas dos peixes pulando na areia fina e brilhante da beira do córrego, lavar, colocar sal e suco do limão vermelho, maduro, catado no limoeiro bravo do pasto, assar na brasa dos gravetos e gozar o gosto mais gostoso de toda nossa vida...
Não dá pra esquecer o perfume do peixe enfumaçado grudado no nariz, o bolor do pão amanhecido, a vida de cabelos molhados e pés descalços sem medo de nada; no céu da boca o sabor de sal, carne e liberdade.
Juvenil de Souza é um
libertário anarquista.
Próxima crônica
Voltar à página anterior