English French German Spain Italian Dutch Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

As odaliscas

Elas eram um bando alegre no meio do salão; véus evanescentes de todas as cores ofuscavam as outras fantasias pálidas diante de tanta beleza e formosura.
A gente circulava em volta delas, protegidas pelos irmãos, primos, pais, tios, tias, avôs, avós - guarda que não deixava ninguém se aproximar. A orquestra tocava os seus trombones, pistões e bumbos e a música rodopiava no ouvido da gente entre o perfume dos lança-perfumes Rodouro e Colombina.
As odaliscas reinavam naquele sonho perfumado, olhares de viés e de soslaio, marcando um encontro para quando a música parasse e a gente fosse ao bar tomar um Fernet ou conhaque para dar coragem de chegar perto. Inútil - elas desapareciam como apareciam - no ar, com a fantasia de véus coloridos e transparescentes.
E o coração ficava carregado de desejo, de uma frustração infeliz e castigante, de um beijo, um abraço, corpos colados que não aconteceram. No final da madrugada alguns iam até á igreja e voltavam com uma cruz de cinza marcada na testa como absolvição de pecados valendo até o ano que vem Aí, de manhãzinha, já era quarta-feira de cinzas, elas iam embora no trem que fumegava na estação e apitava na curva lá longe.
Daquela odalisca de olhos de gato restou em nós uma fita esgarçada de seda vermelha vibrante e perfumada atirada esvoaçante no ar, como um adeus e uma promessa na porta do salão que se esvaziava.

Próxima crônica

Voltar à página anterior